sábado, 26 de abril de 2008

FILHOS DA PÁSCOA


FILHOS DA PÁSCOA

O desatino das inseguranças não faz barreira às esperanças

Da esperança, a dor; o sentido oculto que move os pés, o desejo incontido de ver as estradas se transformando, aos poucos, em chegadas "rebordadas" de alegrias.

Ir. Um ir sem tréguas, senão as poucas pausas dos descansos virtuosos que nos devolvem a nós mesmos. Idas que não findam e que não esgotam os destinos a serem desbravados. Passagens, páscoas e deslocamentos.

Eu vou; vou sempre porque não sei ficar. Vou na mesma mística que envolveu os meus pais na fé, os antepassados que vieram antes de mim.

Vou envolvido pela morfologia da esperança; este lugar simples, prometido por Deus, e que os escritores sagrados chamam de Terra Prometida. Eu a quero.

O lugar sugere saciedade e descanso. Sugere ausência de correntes e cativeiros... Ainda que o caminho seja longo, dele não desisto. Insisto na visão antecipada de seus vislumbres para que o mar não me assuste na hora da travessia. Aquele que sabe antecipar o sabor da vitória pela força de seu muito querer, certamente, terá mais facilidade de enfrentar o momento da luta.

O povo marchava nutrido pela promessa. A terra seria linda; nela, não haveria escravidão. Poderiam desembrulhar as suas cítaras, cantar os seus cantos, declamar os seus poemas. A terra prometida seria o lugar da liberdade. Mas, antes dela, o processo. Deus não poderia contradizer a ordem da vida. Uma flor só chega a ser flor depois que viveu o duro processo de morrer para suas antigas condições. O novo nasce é da morte. Caso contrário, Deus estaria privando o seu povo de aprender a beleza do significado da Páscoa.

Nenhuma passagem pode ser sem esforço. É no muito penar que alcançamos o outro lado do rio, o outro lado do mar... E assim foi. O desatino das inseguranças não fez barreira às esperanças de quem ia. O mar vermelho não foi capaz de amedrontar os desejosos da Terra, os filhos da promessa. Pés enxutos e corações molhados, homens e mulheres deitaram suas trouxas no chão; choraram o doce choro da vitória e construíram, de forma bela e convincente, o significado do que hoje também celebramos.

A vida cresceu generosa, o significado também.

Ainda hoje, somos homens e mulheres de passagens; somos filhos da Páscoa.

Os mares existem, os cativeiros também. As ameaças são inúmeras, mas haverá sempre uma esperança a nos dominar; um sentido oculto que não nos deixa parar; uma terra prometida que nos motiva a dizer: Eu não vou desistir! E assim seguimos juntos, mesmo que não estejamos na mira dos olhos.

O importante é saber que, em algum lugar deste grande mar de ameaças, de alguma forma estamos em travessia...

Fonte: Padre Fábio de Melo

A FÉ DE EXPECTATIVA


A FÉ DE EXPECTATIVA

A fé é um dom por excelência, tão importante quanto o dom maior, que é o amor, do qual Paulo fala na Primeira Epístola aos Coríntios, cap. 13. É o dom da fé carismática. Chama-se fé carismática, porque é um dom de real expectativa: ele não me faz apenas acreditar em algo; faz com que eu acredite e espere que aconteça.Fé e esperança estão muito ligadas. A fé de expectativa nos leva à esperança, cria todo um comportamento. É isso que o Espírito Santo suscita em nós: atitudes novas.O Senhor quer mudar nossas atitudes, Ele quer dar a nós a fé de expectativa, fé de quem espera que cada um dos dons se realize. A fé carismática sustenta todos os demais dons. O Espírito Santo quer nos dar o dom carismático da fé, o dom de expectativa que muda a nossa mente, que muda as nossas atitudes.Devemos viver pela fé e não apenas pelo raciocínio, por isso, o dom carismático da fé é tão precioso! Infelizmente, derrubamos com palavras aquilo que acreditamos. Muitas vezes, oramos ao Senhor com fé, mas depois dizemos palavras que destroem tudo. Palavras negativas, palavras de murmuração, palavras de quem não acredita.Precisamos cooperar com o dom da fé, não somos mais crianças para nos deixar levar ao sabor das situações. Não, pelo contrário, o Senhor precisa que sejamos homens e mulheres de fé.Fonte: Monsenhor Jonas Abib

terça-feira, 15 de abril de 2008

POR QUE ESTA VIDA É TÃO PRECÁRIA?


POR QUE ESTA VIDA É TÃO PRECÁRIA?
Deus quer nos ensinar a lição sobre a brevidade desta vida
Uma das reflexões mais profundas que podemos fazer é sobre a efemeridade de todas as coisas que envolvem nossa existência. Deus dispôs tudo de modo que nada fosse sem fim aqui nesta vida. Qual seria o desígnio de Deus nisso? A cada dia de nossa vida temos de renovar uma série de procedimentos: dormir, tomar banho, alimentar-nos, etc. Tudo é precário, nada é duradouro; tudo deve ser repetido todos os dias. A própria manutenção da vida depende do bater interminável do coração e do respirar contínuo dos pulmões. Todo o organismo repete, sem cessar, suas operações para a vida se manter. Tudo é transitório… nada é permanente. Toda criança se tornará um dia adulta e, depois, idosa. Toda flor, que se abre, logo estará murcha. Todo dia, que nasce, logo termina… E assim tudo passa, tudo é transitório. Por que será? Qual a razão de nada ser duradouro? Compra-se uma camisa nova, e logo já está surrada; compra-se um carro novo, e logo ele estará bastante rodado e vencido por novos modelos, e assim por diante.
A razão inexorável dessa precariedade das coisas também está nos planos de Deus. A razão profunda dessa realidade – tão transitória – é a lição cotidiana que Deus nos quer dar de que esta vida é apenas uma passagem, um aperfeiçoamento em busca de uma vida duradoura, eterna, perene.
Em cada flor que murcha e em cada homem que falece, é como se Deus nos dissesse: “Não se prendam a esta vida transitória. Preparem-se para aquela que é eterna, quando tudo será duradouro e nada precisará ser renovado dia a dia.” Isso mostra-nos também que a vida está em nós, mas não é nossa. Quando vemos uma bela rosa murchar, é como se ela estivesse nos dizendo que a beleza está nela, mas não lhe pertence. Da mesma forma, quando vemos uma bela artista envelhecer, é como se ela também nos dissesse: “A beleza está em mim, mas não me pertence”.
Com a precariedade da vida e de tudo o que nos cerca, Deus nos ensina, diária e constantemente, que tudo passa e que não adianta querermos construir o céu aqui nesta terra. Ainda assim, mesmo com essa lição permanente que Deus nos dá, muitos de nós somos levados a viver como aquele homem rico da parábola narrada por Jesus. Ele abarrotou seus celeiros de víveres e disse à sua alma: “Descansa, come, bebe e regala-te” (Lc 12,19); ao que Deus lhe disse: “Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma” (Lc 12,20).
A efemeridade das coisas é a maneira mais prática e constante que Deus encontrou para nos dizer, a cada momento, que aquilo que não passa, que não se esvai, que não morre, é aquilo de bom que fazemos para nós mesmos e, principalmente, para os outros. Os talentos multiplicados no dia-a-dia e a perfeição da alma – buscada na longa caminhada de uma vida de meditação, de oração, de piedade –, essas são as coisas que não passam, que o vento do tempo não leva e que, finalmente, nos abrirão as portas da vida eterna e definitiva, quando “Deus será tudo em todos” (cf. I Cor 15,28).
A transitoriedade de tudo o que está sob os nossos olhos deve nos convencer de que só viveremos bem esta vida se a vivermos para os outros e para Deus, de acordo com sua Vontade e suas Leis. São João Bosco dizia que “Deus nos fez para os outros”. Só o amor, a caridade e o oposto do egoísmo podem nos levar a compreender a verdadeira dimensão da vida e a necessidade da efemeridade terrena.
Se a vida na terra fosse incorruptível, muitos de nós jamais pensaríamos em Deus e no céu. Acontece que Ele tem para nós “algo mais excelente”, aquela vida que levou São Paulo a exclamar: “Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (cf. Is 64,4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (I Cor 2,9).
A corruptibilidade das coisas da vida deve nos convencer de que Deus quer para nós uma vida muito melhor do que esta – uma vida junto d’Ele. E, para tal, Ele não quer que nos acostumemos com esta, mas que busquemos a outra, onde não haverá mais Sol porque o próprio Deus será a luz, e não haverá mais choro nem lágrimas, porque Ele mesmo as enxugará.
Aqueles que não crêem na eternidade jamais se conformarão com a precariedade desta vida terrena, pois sempre sonharão com a construção do céu nesta terra. São os seguidores dos filósofos ou pensadores ateus como Voltaire, Nietzsche, Fuerbach, Marx, Saramago, Freud, Sartre, Kierkegaard e tantos outros que se incumbiram de fomentar o desespero nas almas e até o suicídio, por não crerem em Deus. Esses não se conformaram com a precariedade da vida e a achavam lamentável. Mas, para os que crêem, para aqueles que a Luz de Cristo iluminou a vida deles, já que “Ele é a luz que vindo a este mundo ilumina todo homem” (João 1, 9) a efemeridade tem sentido: pois canta a Liturgia que “a vida não será tirada, mas transformada”; e o “corpo corruptível se revestirá da incorruptibilidade” (I Cor 15,54) em Jesus Cristo.
São Paulo, falando aos filipenses, explicou tudo em poucas palavras: “Nós, porém, somos cidadãos dos céus. É de lá que ansiosamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará nosso mísero corpo, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso, em virtude do poder que tem de sujeitar a si toda criatura.” (Fil 3, 20-21). E disse aos coríntios: “Semeado na corrupção, o corpo ressuscita incorruptível; semeado no desprezo, ressuscita glorioso; semeado na fraqueza, ressuscita vigoroso; semeado corpo animal, ressuscita corpo espiritual” (I Cor 15, 42-43). E ainda: “Se é só para essa vida que temos colocado a nossa esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de lástima” (1 Cor 15,19).
Enquanto essas verdades não caírem no fundo de nossa alma – e ali produzirem os seus frutos – não seremos verdadeiramente felizes e realizados neste mundo. Mas também isso é graça de Deus.
Fonte: CN - Felipe Aquino

A FALTA DE ENTUSIASMO


A FALTA DE ENTUSIASMO
Mais importante que saber quem eu sou é saber a quem eu pertenço
Quando estamos doentes o certo é procurarmos um médico. Conforme a doença, ele nos receitará um tratamento adequado. Cada doença requer um tratamento especifico. Por isso mesmo não se deve partir para a automedicação. O diagnóstico médico, os exames complementares e o cauteloso acompanhamento serão decisivos no prognóstico do tratamento, o qual poderá ser uma intervenção cirúrgica, um tratamento à base de antibióticos, analgésicos, entre outros.
O mesmo deve ocorrer com a Cura Interior. Nesse caso, chamo de "automedicação" a busca desenfreada, por conta própria, de terapias e a mistura de teses e correntes pseudo-espirituais. Hoje em dia, fala-se muito em terapias de auto-ajuda. Todos os mestres dessa corrente falam constantemente da necessidade de nos conhecermos melhor, de saber quem somos. Eu diria que, na Cura Interior, mais importante que saber quem eu sou é saber a quem eu pertenço.
A Bíblia nos revela que somos de Deus e que somente n'Ele e a partir d'Ele podemos descobrir os caminhos para a nossa felicidade e realização. Por isso, num processo de Cura Interior é muito importante invocar insistentemente o Espírito Santo. Abrir-se ao Espírito é o primeiro passo para descobrir o infinito amor de Deus em nossa vida. Essa abertura acontece com a oração. Por essa razão é importante achar um lugar apropriado para rezar a fim de evitar as distrações e perturbações. Um ambiente que seja propicio à Cura Interior. Todo o resultado do processo depende totalmente dessas ações.
A Bíblia fala do Espírito Santo como força, dínamo, energia, luz. E entusiasmo é exatemente isso. A palavra "entusiasmo" vem do grego enthousiasmós, “ter Deus (Theós) dentro de nós”. Perdemos a alegria de viver quando deixamos viver em nós o ódio, o desamor, a mentira, o pecado, enfim, tudo o que nos afasta da presença e da graça de Deus. Na Antiguidade, entusiasmo era a exaltação ou arrebatamento extraordinário daqueles que estavam sob a inspiração divina. O Novo Dicionário Aurélio ainda elenca outros significados da palavra "entusiasmo": vigor no falar e no escrever, exaltação criadora, inspiração, flama, admiração, viva alegria, júbilo, dedicação ardente, ardor, paixão... E não são exatamente esses os sentimentos que desejamos em nossa vida?
O primeiro sinal de depressão é exatamente o contrário de tudo isso: falta de alegria, medo, ansiedade, sentimento de impotência, desanimo etc.. Por isso, para que a Cura Interior aconteça é imprescindível a abertura à ação do Espírito e o clima de oração: colocar-se na presença de Deus!
Uma das grandes causas de corações feridos e machucados hoje em dia é exatamente a ausência de Deus na vida das pessoas. Vivemos num mundo que parece não ter espaço para Deus. Enchemos o coração com as coisas do mundo, com os apegos materiais, com forças negativas do pecado. A conseqüência só poderá ser a falta de entusiasmo.
Abra seu coração para Deus. Reserve um lugar especial para Ele em sua vida.
(Artigo extraído do livro "Seja feliz todos os dias")
Fonte: Pe. Léo (SCJ)

CHEIOS DO ESPÍRITO SANTO !


CHEIOS DO ESPÍRITO SANTO !

Se pegarmos um lenço e o mergulharmos em uma vasilha com suco de morango, o suco penetrará nas fibras do tecido e ele ficará vermelho. E se o levarmos à boca, sentiremos o gosto de suco. Se o espremermos, o que sairá dele? Suco, é claro, porque o suco penetrou nele. Era isso que Jesus estava dizendo ao usar o verbo batizar: “Porque João batizou na água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo daqui a poucos dias” (Atos dos Apóstolos 1,5).

Não se trata de derramar o Espírito Santo em nós, mas de sermos “mergulhados” no Espírito Santo. É como mergulhar um lençol na água: o lençol acaba ficando impregnado deste líquido, porque todas as fibras do tecido ficam cheias d’água. É preciso que o mesmo aconteça com cada um de nós. “Vós sereis batizados no Espírito Santo”. Para que o Espírito nos impregne totalmente, penetrando em todas as fibras do nosso ser, é preciso que aceitemos ser mergulhados n’Ele.

Ser banhados no Espírito é a grande graça que recebemos, de tal maneira que Ele tome conta de todo o nosso ser. O que levamos aos outros não somos nós, mas o próprio Espírito Santo. A partir disso, conclui-se uma coisa importante: os dons estão intimamente ligados à graça de receber a efusão do Espírito Santo. De modo que quem foi batizado n’Ele não pode ficar sem os dons, pois os dons são a mais legítima expressão d’Ele.

Fonte: Monsenhor Jonas Abib

domingo, 6 de abril de 2008

Não espere que os outros mudem. Mude você


Não espere que os outros mudem. Mude você

Não deixe que a mágoa, a raiva, o ódio e o ressentimento cresçam e façam mal a você. Sabe como eu faço? Luto para não alimentar o mal. Clamo pelo Sangue de Jesus constantemente, pelo poder das Suas cinco chagas sobre mim, pelas pessoas e situações.

É fundamental rezar intensamente por aqueles que nos agridem, pedindo a Deus que os abençoe. É importantíssimo abençoá-los e louvar por aquilo que essas pessoas são e representam. Os demais nem precisam perceber que estamos em oração, basta pedir a Deus a graça de olhar as pessoas nos olhos com os olhos d'Ele. Dessa forma, o nosso coração ama e expressa amor.

Quando descobrimos qualidades nas pessoas, neutralizamos o mal, passamos a enxergá-las com outros olhos e o amor nos vence. De maneira alguma devemos ressaltar os defeitos de quem quer que seja, pois todos trazemos traços do rosto de Deus. Precisamos ressaltar o bem no outro.

Nunca espere que os outros mudem; mude você! Ao mudarmos para melhor as coisas começam a se modificar dentro de nós e ao nosso redor, pois nossa visão muda.


Jesus, eu confio em Vós!

AMOR: PROCESSO DE CONTINUIDADE


AMOR: PROCESSO DE CONTINUIDADE
Sempre que escutamos a Palavra do Senhor, por aquilo que Deus é, podemos ter um pouco de dificuldade, mas a Palavra do Senhor tem força. A palavra do outro pode passar pela falsidade, mas a Palavra de Deus não, pois é o Caminho. É como ir a um lugar sem ter um caminho a seguir, caso contrário, nos perderemos. Se quiser ser de Deus, terá que viver as duas vias do Senhor: ‘Amarás ao Senhor teu Deus e ao próximo como a ti mesmo’. O que você entende por esta palavra 'amor'? É impressionante o quanto o amor de Deus nos toca. Os poetas sempre tentaram decifrar o amor, mas nunca conseguiram. Assim como Luiz de Camões em seu poema: ‘O amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer’. O amor não se poetiza. Quantas vezes sentimos o amor e não sabemos onde realmente dói? O amor é revelação, inauguração, tem o poder de ser novo com aquilo que estava velho. Jesus sabe da capacidade de olhar as coisas miúdas da vida, as que não damos valor, e aquelas que ninguém havia visto antes. Colocando os pés no seguimento de Cristo, ouvimos a Palavra para olhar a vida diferente: ‘Amar a Deus sobre todas as coisas’. E o que significa amar o meu próximo? O que significa olhar para o meu irmão e saber que nele tem uma sacralidade que não posso violar? Como posso descobrir este convite de Deus de abrir os olhos às pessoas? No dia de hoje, lhe proponho que acabe com os 'achismos' do amor. Por muitas vezes, em nome do amor, nós fazemos absurdos: seqüestramos, matamos, fazemos guerra, criamos divisões. A primeira coisa que Deus precisa curar é o que nós achamos do amor. O amor nos dá uma força que nem nós mesmos sabíamos que tínhamos. É a capacidade que o amor tem de nos costurar. Quantas vezes olhamos para a objetividade do outro que nos motiva a sermos melhores. É o amor com suas clarezas e suas confusões. Hoje tem um jeito comum de trazer o que você tem de mais precário em sua vida e dar ao outro. Muitas vezes em nome do amor tratamos as pessoas como ‘coisas’. Quando Deus entra em nossa vida e entramos na vida de outras pessoas, temos que entrar como Deus, agregando valores. Caso contrário é melhor que eu fique de fora, porque você é um território que merece respeito. Essa Palavra de Deus é comprometedora. É fazer as pessoas amarem a Jesus pelo seu testemunho, a partir do momento em que você permite transmiti-lo, nesta realidade do dia-a-dia, ao acordar e dormir. Na passagem da sarça ardente (Ex 3,2ss ) Deus se manifesta em uma árvore que pega fogo mas não é consumida. Esse é o amor de Deus: Quanto mais nós amamos, mais somos consumimos, e se estamos esgotados é porque amamos ‘de menos’. Vamos ficando sem o vigor, mas a sarça queima sem se consumir. O fogo do amor não queima, pois é um fogo que faz outro fogo, e a experiência do amor de Deus é feita pelo amor de um para o outro. Amar o outro é levar prejuízo. Quantas vezes você passou noites inteiras acordadas pelo seu filho? Quanto sono perdido? Isso é por amor. Você vai saber o que é amor quando você se consome, mas não se esgota. Você nunca vai dizer que está cansado de amar o seu filho. Você está cansada dos problemas causados pelo filho, mas não de amá-lo. Quantas pessoas que procuram e estão necessitadas do amor, mas em sua busca correndo atrás das micaretas e baladas? A busca do amor está aguçada. Está todo mundo querendo saber o que é o amor, e todos precisando de cura. Quantas pessoas foram amadas erroneamente, trazendo as marcas de um amor estragado. Quando alguém nos ama com um amor estragado, só se percebe em longo prazo. Como comer uma comida podre que vai dar um problema sério no futuro. Aquele desaforo, aquela traição, aquela mentira e o que você fez com tudo aquilo? Como aquilo repercutiu em você? Aquela experiência ruim que sofreu, onde está? Quando digo que amo a Deus, estou dizendo no avesso desta frase que amo a mim também. Nenhuma pessoa pode amar a Deus se não se ama. Nenhuma pessoa pode ter uma experiência com Deus se não for pelo amor a si próprio, pelo respeito por si mesmo. O amor a Deus passa o tempo todo pelo cuidado que eu tenho com a minha vida, com a minha história. Deus nos quer cuidados. Você precisa redescobrir a graça de se amar. Quanto você se ama? O que você ainda espera de você mesmo? Como você ainda se cuida? O quanto você ama a Deus? O que você faz por Ele? Quanto do seu tempo dedica a Ele? As mesmas respostas das primeiras perguntas valem para as segundas. O tempo em que você se dedica a Deus, dedica a você mesmo; pois a obra que Ele quer restaurada é você. ‘Se quiser entrar em minha vida retira as sandálias, pois esse solo é santo’. O amor que tenho a meu Deus é um amor a mim mesmo. Deus quer ser glorificado através de mim. Não haverá a possibilidade de sermos santos se não retirarmos de nós as 'podridões'. Tenha coragem de tirar as histórias do passado que doem e que você as carrega até o dia de hoje. O alvo deste acampamento, não é o amor que você tem a Deus, mas é o amor que você tem a você mesmo, que é determinante para saber a sacralidade do outro. A gênese da nossa capacidade de amar o outro, está na incapacidade de não me amar. A conversão é um movimento contrário, para amar a si mesmo. É impossível uma pessoa que se ama se drogar, ou deixar uma outra pessoa jogar para dentro de si uma substância letal. Como sou capaz de amar o próximo como a mim mesmo, se ainda não me amo? Faça caridade a você primeiro. Os seus amigos irão agradecer por você se amar. Quando o amor nos atinge, seremos mais felizes. Vamos experimentar da graça e dar a graça ao outro também. Um povo que se ama é um povo que sabe aonde vai. O amor a Deus e ao próximo é um amor a si mesmo. Eu ainda acredito no que Deus pode em mim. Volte a gostar de você! Padre Fábio de Melo(Acampamento da Cura e Libertação dos Afetos e Emoções - Transcrição: Eliziane Alves)

SER PESSOA: PROCESSO DE DEVOLUÇÃO


SER PESSOA: PROCESSO DE DEVOLUÇÃO
'O desafio de ser pessoa'. O termo 'pessoa' sempre foi muito usado, principalmente pelos gregos. 'Pessoa', no contexto grego, significa a máscara que o ator usava para interpretar no teatro.

Eu tenho que ser eu. Uma pessoa só pode ser pessoa, se ela é dona de si. Nós temos que tomar posse do que somos. Quantas coisas você possui e ainda não tomou posse? O amor é a capacidade de descobrir no outro o que ele ainda não viu que tem. É como se você tivesse uma grande propriedade e não tivesse a capacidade de andar por ela para demarcá-la, e não a conhece na totalidade. Mas aos poucos vai sendo dono daquilo que já é seu.

Ser pessoa é ser dono de você mesmo, e saber lidar com seu jeito de ser, de amar, de sentir, de pensar, de ter suas limitações e saber o que você pode. Quantas vezes você se dispôs a ser o que não era, dizendo 'sim' onde era para dizer 'não'? Você não teve consciência do que não podia. É o que Jesus sempre fez com as pessoas. Fazendo-as tomarem posse do próprio território, de si mesmas. 'Eu sou dono de mim, e não abro mão'.

Quem é o 'prefeito' de sua 'cidade'? Tenha coragem de dizer aos inimigos: 'Aqui nesta cidade tem prefeito (eu), e aqui não tem lugar para os bandidos. Eu não abro mão do meu território'. E é aqui que Deus trabalha em nós para celebrar a Eucaristia, é para Deus que nos entregamos de novo. Eu sou pessoa, e me recebo de Deus o tempo todo. E Ele diz: "Cuide do que você é. Você não tem o direito de deixar as pessoas lhe roubar". E tem pessoas que te 'devolvem'. A experiência com Deus sempre diz: "Eu lhe devolvo".

Não tenha preguiça de conhecer seu 'território' e saber quem você é realmente. O total desconhecimento de si, não pode acontecer. A pessoa que não é 'pessoa', não tem assunto e sabe tudo o que acontece na vida do outro, mas não sabe de si mesma.

As pessoas que vivem preocupadas com as novelas da vida, se desgastam com pessoas que nem conhecem. Não é fácil compreender o território humano. Se investigar e conhecer o 'porquê' de algumas reações, o 'porquê' aquela raiva foi tão grande naquela hora, o 'porquê' eu explodi com aquela pessoa... É descobrir o 'porque' do afeto que tenho dentro de mim. Você deixa de ser explosiva demais quando toma posse do que é. Tudo isso porque você está em processo de construção. Deveríamos estar com placas dizendo: 'Estamos em obra, cuidado!' É o seu processo de 'feitura' de ser pessoa.

'Não tenha preguiça de conhecer seu ‘território’ e saber quem você é realmente'

Enquanto você viver haverá partes deste 'território' para conhecer. Tantas coisas nos foram entregues, mas se elas não vêm à tona, e nem as investigarmos, tudo o que temos dentro de nós fica sem uso. Quanta coisa preciosa você tem dentro de você e não sabe por quê fica só na superficialidade do conhecimento de si? Quando é que você sabe que uma pessoa se ama? Você só sabe que ela se ama quando ela se cuida, quando tem disciplina.

Que você não morra com seus valores ‘engavetados’, pois Deus lhe dá talentos para que você os use, e não para deixar guardado.

'Eu sou um dom de Deus'. Todos os dias há alguma coisa para você ir atrás e descobrir. Você se recebe de Deus, Ele que me deu esta obra todos os dias. Temos que ser bom naquilo que a gente faz para nos colocarmos à serviço dos que necessitam. Uma pessoa só é pessoa quando se disponibiliza aos outros. Aquilo que recebo de Deus coloco à disposição dos outros. E nisso temos a integração de uma personalidade saudável.

Ser pessoa não é só contemplar o que sou e tenho de melhor, mas ser pessoa é descobrir e cultivar o que tenho de melhor para que outros sejam beneficiados. Como Jesus fazia o tempo todo em sua capacidade de se doar e ensinar, é preciso se doar também. É necessário tomar cuidado para outra pessoa não tomar posse do que você é, pois a partir daí você não terá mais domínio sobre o que é seu. Se não sou capaz de tomar conta de mim, perco meus talentos e não me possuo mais. Quantas vezes você foi machucado nesta vida e pessoas lhe roubaram? Quando não me possuo, tenho dificuldade de ser para o outro, e corro o risco de não ser o que devo ser.

Estabeleça o seu limite.
Seja firme!
Padre Fábio de Melo (Acampamento da Cura e Libertação dos Afetos e Emoções - Transcrição: Eliziane Alves)

SAIR DEBAIXO DA MESA


SAIR DEBAIXO DA MESA
“Caríssimos, amemos-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em nos ter enviado ao mundo o seu Filho único, para que vivamos por ele. Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos ele amado, e enviado o seu Filho para expiar os nossos pecados. Caríssimos, se Deus assim nos amou, também nós nos devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito. Nisto é que conhecemos que estamos nele e ele em nós, por ele nos ter dado o seu Espírito. E nós vimos e testemunhamos que o Pai enviou seu Filho como Salvador do mundo. Todo aquele que proclama que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece nele e ele em Deus. Nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem para conosco. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele. Nisto é perfeito em nós o amor:”( I João 4, 7-17)

Deus só pode alguma coisa em nós quando somos capazes de olhar as situações com amor.

Na sua infância, você já quebrou alguma coisa de sua mãe e ficou com medo de que ela descobrisse, e se enfiou debaixo da mesa para poder se esconder? Comigo isso sempre acontecia. Quantas vezes nos escondemos das situações debaixo da mesa. O medo é tão maior do que o que pode acontecer conosco que preferimos nos esconder. Mas vai chegar um momento em que teremos de enfrentar as dificuldades, as nossas fraquezas, os nossos erros.

Lembro-me de minha mãe diante do presépio que ela havia ganhado de minha avó, aquilo era de muito valor para ela, pois foi minha avó que lhe tinha dado. Quando o presépio estava pronto, nunca podia tocar nele. Mas quando eu estava maiorzinho, minha mãe permitiu que eu pegasse o Menino Jesus. Um dia, na ausência dela eu me achei cheio de autoridade para carregar o Menino Jesus e saí para mostrar ao meu vizinho. No meio do caminho comecei a correr e o deixei cair e, na ânsia e na pressa, peguei-o do chão e continuei a minha empreitada para chegar à casa do meu vizinho. E quando o mostrei a ele, disse-me que era bonito, mas estava sem a cabeça. Desesperado, voltei ao lugar onde ele tinha caído e procurei pela cabeça, sendo ajudado pela minha prima, a colamos e o coloquei no presépio.

Quando minha mãe chegou em casa, ao olhar para mim, percebeu algo estranho e perguntou o que havia acontecido. Logo abracei as pernas dela e comecei a chorar e disse que havia quebrado o Menino Jesus. Ela, olhando para mim, levantou-me e deu um sorriso dizendo que não tinha problema. Percebi, naquele momento, o verdadeiro valor da misericórdia, o qual nenhum livro de teologia me ensinou; aprendi ali, na simplicidade de minha mãe.

Na vida somos engaiolados com os nossos medos, nossas inseguranças.

Outro dia estive com minha amiga, que teve sua irmã seqüestrada por 20 dias. Imagine durante 20 dias uma pessoa sendo tratada como um nada, no escuro? Ali ela devia imaginar: “Será que eles vão pagar o meu resgate? Será que tenho este valor”?

A vida humana gira em torno do valor, a fonte de todos os desejos do ser humano é o desejo de ser desejado sempre.
O tempo todo passamos da experiência de sair da multidão e ser reconhecidos como único. Ninguém deseja ser visto como uma multidão, mas individualmente. No momento do seqüestro isso vem à tona: "Será que valho o que está sendo cobrado?" Os maus-tratos do cativeiro minam os conceitos que temos sobre nós mesmos. Não falo do seqüestro do corpo, mas do seqüestro da subjetividade, quando você depara com suas fragilidades e não sabe negociar, e vive como vítima seqüestrada. Quantas pessoas nos metem medo só no olhar; isso não é amor. Quantas pessoas nos reprovam e nos levam para "debaixo da mesa", para o cativeiro!
Há pessoas que nos roubam, que nos mandam para "debaixo da mesa"! Quantas vezes, a vida o levou para "debaixo da mesa"? Quantas pessoas estão "debaixo da mesa "porque não tiveram coragem de enfrentar o “seqüestrador”, de enfrentar os seus erros e fracassos. Se você não enxergar os seus erros e ver neles uma oportunidade de mudança, você vai permanecer "debaixo da mesa".

Quando você está no escuro e precisa de luz, você olha a beleza da vela ou se ela tem pavio? Pare de prestar atenção no que a vida vai fazer. Deixe a "cera", olhe o "pavio", olhe o essencial! O essencial é o "pavio", é você, sua história. Pare de olhar a "cera" destruída, arranhada, olhe o "pavio" que está pronto para iluminar, para queimar. E o que queima é vida nova. Ame-se! Não importa o que tenha acontecido em sua vida; não olhe para aquilo que você perdeu, para aquilo que foi estragado, olhe para o "pavio".

Deus não olha para a multidão, Deus olha você. O olhar de Deus não se desviou da sua vida em nenhum instante.
Pode ser que hoje você tenha um passado horrível para ser arrumado, talvez você tenha medo de sair "debaixo da mesa", mas Deus o convida para sair do seu "cativeiro". Deus rompe todos os "cativeiros" possíveis!

Fonte:Padre Fábio de Meel(Acampamento da Cura e Libertação dos Afetos e Emoções - Transcrição: Rogério Vieira)

AFETOS INTEGRAIS E REFINADOS


AFETOS INTEGRAIS E REFINADOS
Saber que Deus cuida de nós é muito bom! É muito bom saber que alguém cuida de nós, pois quando passamos por esta experiência de sermos amados, somos encorajados por aquele que nos ama. Se pelas dificuldades vamos para 'debaixo da mesa', quando percebemos que Deus nos ama, saímos e nos sentimos amados.

Vejam as situações que nos jogam para debaixo da mesa, pessoas que são maltratadas nos seus afetos, que são as camadas exteriores, mas muito mais ainda nas interiores. O afeto é muito fácil de ser despertado, o afeto é uma forma de memória, recorda as lembranças que temos. Ao escutar uma música nossa memória faz-nos voltar àquele fato, àquela situação, sendo assim uma memória afetiva, que tem poder sobre nós. A nossa memória afetiva nos remete a não gostar de uma pessoa que acabamos de ver, e não temos razão - não conhecemos sua história, gostos, não convivemos - para não gostar de uma pessoa que acabou de chegar a nossa vida. Esta pessoa tem alguma coisa de você mesmo, que você não gosta. Você olha para ela e lembra-se de uma coisa que você não gosta no seu pai, sua mãe. Mas também tem aquelas pessoas que chegam perto de nós e vamos com a "cara" delas.

Assim como Jesus, que era amável com todos, pois, tinha impelido dentro de si esta graça; cada vez que você se encontra com uma pessoa, formam-se os "nós". Se tivermos uma corda, fazemos um nó, um encontro, assim é o que acontece conosco, e isso nos transforma. Essa é a nossa possibilidade de encontrarmos com o outro, tirando de mim o que tenho de mais precioso, de mais lindo; essa é a empatia que surge quando você encontra com o outro, essa provocação que muitas vezes acontece, do encontro. O que sobra é o resto entre mim e o outro, e tenho que aprender a fazer a digestão dos pensamentos e se não consigo, surge a indigestão emocional.

'No momento em que o seu coração se ocupa de ódio, você não será capaz de amar ninguém'

Os traumas acontecem quando somos traídos e nos fazem ir para debaixo da mesa. Existem dois aspectos da traição: quem traiu - está dando acesso para ser traído - e aquele que fica guardando a traição. Combater os inimigos do lado de fora, é fácil, mas combater a traição a si mesmo, não é nada fácil.

Às vezes caímos de barrancos, e o grande problema não é cair, mas saber como se levantar. Quantas pedras já lhe atiraram, quanta fofoca já machucaram você. Jogam pedras em nós, seguramos as pedras e jogamos novamente, ou nem jogamos. O problema não está na pedra que o outro nos joga, mas, quando seguramos a pedra e ficamos agarrados, indo para debaixo da mesa.

Levou prejuízo? Levanta! Sacode a poeira e dê a volta por cima. Tem gente que recebe uma pedra e fica decorando a vida com ela. A melhor coisa que tem é jogar a pedra fora, não permita que o seu agressor jogue a pedra e você fique com ela na mão. Quantos afetos estragados dentro de nós, coisas que deveríamos jogar fora e não jogamos.

No momento em que o seu coração se ocupa do ódio, você não será capaz de amar ninguém. Só seremos capazes de amar, se sairmos debaixo da mesa e entendermos o que para nós é valor.

A sociedade nos faz acreditar que os vícios são comuns, as famílias vão sendo roubadas delas mesmas, é o vício roubando a originalidade deles mesmos. Os "seqüestradores" estão viciando os nossos filhos e os matando em vida.

'Se precisamos aprender sobre Deus, precisamos também aprender sobre nós mesmos'

Uma idéia boa substitui uma idéia ruim, um pensamento ruim, por um pensamento bom. Por isso que em meio ao sofrimento procuramos dentro do nosso afeto respostas fáceis, respostas refinadas, mas temos que aceitar as respostas integrais. Muitas vezes preferimos os afetos refinados, aos integrais; pois os integrais dão trabalho para serem aceitos, exigi de nós muito mais estrutura, muito mais trabalho e organização.

Como os alimentos, preferimos aquele que será digerido mais rápido para não dar muito trabalho ao estômago, e cada vez mais se fica gordo por não deixar o estômago trabalhar. Temos de aprender a comer alimentos integrais para não deixar o nosso estômago preguiçoso. Assim também acontece com os nossos afetos, temos que aceitar e saber como administrar os afetos.

Não viva um personagem. Você tem que ser você mesmo e deixar que o outro descubra o seu verdadeiro "eu". E para que o outro não seja aquilo que eu quero que ele seja, buscando no outro uma idealização de uma pessoa perfeita. Se precisamos aprender sobre Deus, precisamos também aprender sobre nós mesmos.

Escrevi uma música a partir do testemunho de uma mulher que me dizia que iria ficar em casa uns 10 dias porque o marido havia batido muito nela, estava toda marcada com hematomas roxos. Se não bastasse a agressão física, também a moral. Vemos o quanto se tem desvalorizado a figura da mulher. Cada vez que você mulher, estiver prestes a apanhar de seu marido, peça para ele retirar a sandália dos pés, pois você é templo santo, é templo de Deus.

Saber que Deus cuida de nós é muito bom! É muito bom saber que alguém cuida de nós, pois quando passamos por esta experiência de sermos amados, somos encorajados por aquele que nos ama. Se pelas dificuldades vamos para 'debaixo da mesa', quando percebemos que Deus nos ama, saímos e nos sentimos amados.

Vejam as situações que nos jogam para debaixo da mesa, pessoas que são maltratadas nos seus afetos, que são as camadas exteriores, mas muito mais ainda nas interiores. O afeto é muito fácil de ser despertado, o afeto é uma forma de memória, recorda as lembranças que temos. Ao escutar uma música nossa memória faz-nos voltar àquele fato, àquela situação, sendo assim uma memória afetiva, que tem poder sobre nós. A nossa memória afetiva nos remete a não gostar de uma pessoa que acabamos de ver, e não temos razão - não conhecemos sua história, gostos, não convivemos - para não gostar de uma pessoa que acabou de chegar a nossa vida. Esta pessoa tem alguma coisa de você mesmo, que você não gosta. Você olha para ela e lembra-se de uma coisa que você não gosta no seu pai, sua mãe. Mas também tem aquelas pessoas que chegam perto de nós e vamos com a "cara" delas.

Assim como Jesus, que era amável com todos, pois, tinha impelido dentro de si esta graça; cada vez que você se encontra com uma pessoa, formam-se os "nós". Se tivermos uma corda, fazemos um nó, um encontro, assim é o que acontece conosco, e isso nos transforma. Essa é a nossa possibilidade de encontrarmos com o outro, tirando de mim o que tenho de mais precioso, de mais lindo; essa é a empatia que surge quando você encontra com o outro, essa provocação que muitas vezes acontece, do encontro. O que sobra é o resto entre mim e o outro, e tenho que aprender a fazer a digestão dos pensamentos e se não consigo, surge a indigestão emocional.

'No momento em que o seu coração se ocupa de ódio, você não será capaz de amar ninguém'

Os traumas acontecem quando somos traídos e nos fazem ir para debaixo da mesa. Existem dois aspectos da traição: quem traiu - está dando acesso para ser traído - e aquele que fica guardando a traição. Combater os inimigos do lado de fora, é fácil, mas combater a traição a si mesmo, não é nada fácil.

Às vezes caímos de barrancos, e o grande problema não é cair, mas saber como se levantar. Quantas pedras já lhe atiraram, quanta fofoca já machucaram você. Jogam pedras em nós, seguramos as pedras e jogamos novamente, ou nem jogamos. O problema não está na pedra que o outro nos joga, mas, quando seguramos a pedra e ficamos agarrados, indo para debaixo da mesa.

Levou prejuízo? Levanta! Sacode a poeira e dê a volta por cima. Tem gente que recebe uma pedra e fica decorando a vida com ela. A melhor coisa que tem é jogar a pedra fora, não permita que o seu agressor jogue a pedra e você fique com ela na mão. Quantos afetos estragados dentro de nós, coisas que deveríamos jogar fora e não jogamos.

No momento em que o seu coração se ocupa do ódio, você não será capaz de amar ninguém. Só seremos capazes de amar, se sairmos debaixo da mesa e entendermos o que para nós é valor.

A sociedade nos faz acreditar que os vícios são comuns, as famílias vão sendo roubadas delas mesmas, é o vício roubando a originalidade deles mesmos. Os "seqüestradores" estão viciando os nossos filhos e os matando em vida.

'Se precisamos aprender sobre Deus, precisamos também aprender sobre nós mesmos'

Uma idéia boa substitui uma idéia ruim, um pensamento ruim, por um pensamento bom. Por isso que em meio ao sofrimento procuramos dentro do nosso afeto respostas fáceis, respostas refinadas, mas temos que aceitar as respostas integrais. Muitas vezes preferimos os afetos refinados, aos integrais; pois os integrais dão trabalho para serem aceitos, exigi de nós muito mais estrutura, muito mais trabalho e organização.

Como os alimentos, preferimos aquele que será digerido mais rápido para não dar muito trabalho ao estômago, e cada vez mais se fica gordo por não deixar o estômago trabalhar. Temos de aprender a comer alimentos integrais para não deixar o nosso estômago preguiçoso. Assim também acontece com os nossos afetos, temos que aceitar e saber como administrar os afetos.

Não viva um personagem. Você tem que ser você mesmo e deixar que o outro descubra o seu verdadeiro "eu". E para que o outro não seja aquilo que eu quero que ele seja, buscando no outro uma idealização de uma pessoa perfeita. Se precisamos aprender sobre Deus, precisamos também aprender sobre nós mesmos.

Escrevi uma música a partir do testemunho de uma mulher que me dizia que iria ficar em casa uns 10 dias porque o marido havia batido muito nela, estava toda marcada com hematomas roxos. Se não bastasse a agressão física, também a moral. Vemos o quanto se tem desvalorizado a figura da mulher. Cada vez que você mulher, estiver prestes a apanhar de seu marido, peça para ele retirar a sandália dos pés, pois você é templo santo, é templo de Deus.
Pe. Fábio de Melo (Acampamento da Cura e Libertação dos Afetos e Emoções - Transcrição: Rogério Viana)